Saúde

O CUSTO DA GUERRA ÀS DROGAS SOBRE A SAÚDE

Na saúde

Suor, tremor, falta de sono e falta de ar são algumas das sensações comuns a quem sofre com transtorno de ansiedade. Mas para 30% dos moradores de comunidades afetadas pela violência armada provocada pelo Estado, esses são os efeitos de viver sob constantes tiroteios. 43% deles sentem o coração disparar nesses momentos. A partir da pesquisa realizada com 1.500 moradores de seis comunidades cariocas foi possível concluir que a exposição a esses eventos gera um aumento na prevalência de hipertensão arterial, insônia prolongada, depressão e ansiedade. Cerca de 51% dos moradores das comunidades mais expostas a tiroteios com presença de agentes de segurança sofrem com alguma dessas condições em comparação a 35,9% dos moradores das comunidades não afetadas por esses episódios

Além disso, moradores das comunidades com mais tiroteios têm um risco 42% maior de desenvolver hipertensão – essa probabilidade aumenta para mulheres e pessoas com mais de 30 anos – e o dobro da chance de sofrer com sintomas típicos de ansiedade em relação aos moradores das outras três comunidades analisadas.

Viver em territórios afetados por tiroteios aumenta em 62% o risco de desenvolver depressão e em 73% de sofrer com insônia prolongada em comparação aos moradores que não estão submetidos a essa rotina de medo, insegurança e estresse.

Resultados Saúde - Ilustração Laerte

No bolso

Além de provocar o desenvolvimento de doenças, a violência armada, fruto da política de guerra às drogas, também impacta na redução da oferta de serviços de saúde. Durante os tiroteios, as unidades básicas de saúde têm seu funcionamento interrompido, os profissionais não conseguem chegar até o trabalho e realizar visitas à casa dos pacientes, e os moradores são impedidos de comparecer a consultas. Nas favelas com tiroteios decorrentes de ações policiais, 59,5% dos moradores afirmaram que as unidades de saúde já foram fechadas em função da violência em relação a 12,9% dos moradores das demais comunidades analisadas.

O fechamento das unidades resulta no surgimento e no agravamento de doenças que poderiam ser evitadas – e demanda que o Estado gaste mais dinheiro público para tratar essas doenças produzidas por ele mesmo através da guerra às drogas. Apenas um dia de fechamento de uma unidade de saúde custa R$ 35 mil em serviços que deixam de ser oferecidos. Para o conjunto das três comunidades mais expostas a tiroteios (Vidigal, CHP-2 e Nova Holanda), o custo médio de três dias de fechamento é de aproximadamente R$317 mil.

Considerando o número de pessoas com hipertensão e depressão nas comunidades mais expostas à violência armada, o custo estimado no tratamento dessas condições varia entre R$69 mil e R$95 mil em valores de 2022.

6,8% dos residentes das favelas mais expostas à violência não conseguiram realizar, por pelo menos um dia, atividades rotineiras como estudar e trabalhar em razão do adoecimento provocado pela exposição prolongada à violência. A não realização dessas atividades causou uma perda anual estimada em R$687 mil na Nova Holanda, R$516 mil no Vidigal e R$188 mil na CHP-2, ultrapassando R$1 milhão para o conjunto dos moradores das três comunidades.

Perda anual estimada dos moradores - R$ 1 milhão
Custo médio de 3 dias de fechamento - R$ 317 mil