Educação

A guerra às drogas mata o futuro de milhares de crianças no Rio de Janeiro

Alguns cálculos revelam números que podem mudar completamente a nossa percepção sobre a realidade das coisas. Por exemplo, como podemos mensurar o reflexo da guerra às drogas na Educação? O desafio desta nova etapa foi mostrar que, mais do que números, a violência cotidiana que afeta diretamente a vida de milhares de crianças e adolescentes da rede municipal do Rio de Janeiro, muda por completo o futuro de cada uma delas. 

A pesquisa Tiros no Futuro mostra que a escolha do Estado por uma política de drogas implementada através do confronto tem um preço alto hoje e para as próximas gerações. E quem paga essa conta são os mais pobres. 

Parceria inédita

Em uma parceria inédita com a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME-RJ), o projeto teve acesso ao Sistema de Gestão Acadêmico (SGA) que permitiu traçar o perfil socioeconômico de estudantes do 5º e 9º ano do Ensino Fundamental, e o Banco com relatos de violência no entorno das escolas. Mapear a violência a partir desses dados demarca a originalidade da pesquisa. A análise revela duas raízes que fundam o Brasil que conhecemos hoje: o racismo e as desigualdades. E como quando interligados, os fenômenos definem a intensidade da violência. 

O estudo mostra que apenas quatro escolas concentraram 95 tiroteios em seu entorno no ano de 2019, o ano-base escolhido por anteceder a pandemia de Coronavírus, que alterou profundamente as dinâmicas educacionais. 

Rio e São Paulo - uma escolha para duas dinâmicas

Na primeira etapa do projeto Drogas: quanto custa proibir, fizemos um paralelo entre Rio e São Paulo, e como ambos os Estados investem na continuidade da guerra às drogas. Dessa vez, optamos apenas pela cidade do Rio, e não foram poucos os motivos que nos levaram a essa escolha. 

Apenas em 2019 a cidade contabilizou 4.346 tiroteios, que resultaram em 569 mortos e 658 feridos, segundo dados da plataforma Fogo Cruzado. A dinâmica singular da violência na cidade do Rio foi o que nos conduziu até aqui. No ano-base da pesquisa, em 60% dos bairros  haviam áreas dominadas por facções do tráfico e/ou milícias; 32% continham territórios em disputa e apenas 8% estavam livres de domínio ou disputa. Com a escolha política pelo confronto cotidiano, que atinge principalmente as populações negras e pobres das favelas, os efeitos da violência nas cidades do Rio e São Paulo não poderiam ser mensurados pelos mesmos parâmetros.