Saúde

QUANDO NÃO MATA, ADOECE

Cotidianamente, as favelas do Rio de Janeiro figuram entre as pautas dos jornais televisivos – na maioria das vezes, associadas a operações policiais. Com o argumento de coibir o tráfico de drogas, os tiroteios nas periferias já viraram rotina e pouco se questiona os seus impactos. Não é novidade que a letalidade policial no Rio de Janeiro é uma das mais altas do país e, tão alto quanto esta taxa, é o número de tiroteios ocorridos com presença de agentes de segurança nas favelas.

No relatório Saúde na Linha de Tiro: impacto da guerra às drogas sobre a saúde no Rio de Janeiro, terceira etapa do projeto Drogas: Quanto Custa Proibir, abordamos como a exposição prolongada à violência armada nesses territórios impacta a saúde dos moradores de favelas. E consequentemente, quanto custa ao Estado e à sociedade os serviços de saúde interrompidos, o dia de trabalho perdido e o tratamento de doenças decorrentes da violência policial provocada pela guerra às drogas.

Seis favelas, dois grupos, uma certeza

Para responder tais questões, a pesquisa ouviu 1.500 moradores de seis favelas do Rio de Janeiro em 2022, com perfil socioeconômico semelhante, mas expostas a diferentes níveis de violência armada. Os registros de tiroteios com presença de agentes de segurança pública foram coletados pelo Instituto Fogo Cruzado. Entre as favelas mais violentadas estão Vidigal, na Zona Sul; CHP-2, em Manguinhos; e Nova Holanda, na Maré – ambas na Zona Norte do Rio. No grupo sem registro de tiroteios, figuram as favelas Parque Proletário dos Bancários, na Ilha do Governador; Parque Conquista, no Caju – ambas na Zona Norte do Rio; e Jardim Moriçaba, em Senador Vasconcelos, na Zona Oeste.

Tiroteios com agentes de segurança em 2019

Embora a Constituição Federal de 1988, também conhecida como Constituição Cidadã, garanta direitos fundamentais como segurança, saúde, educação e renda aos brasileiros, nem todos acessam tais direitos.

A escolha política pela guerra às drogas e o ataque constante à população mais vulnerável de favelas e periferias fere a Constituição e nega direitos a quem mais sofre com essa política: as pessoas negras e pobres.