Território

O CUSTO DA GUERRA ÀS DROGAS NA ECONOMIA DAS FAVELAS

R$ 14 milhões – Esse é o prejuízo anual que as operações policiais causam aos moradores das comunidades mais afetadas por tiroteios com a presença de agentes de segurança. A pesquisa Favelas na Mira do Tiro: Impactos da Guerra às Drogas na Economia dos Territórios realizou 800 entrevistas com moradores maiores de 18 anos dos complexos mais expostos a tiroteios envolvendo agentes do Estado entre junho de 2021 e maio de 2022: complexos da Penha e Manguinhos, localizados na Zona Norte do Rio de Janeiro. Todos os 303 comerciantes e prestadores de serviços da Vila Cruzeiro e de Mandela de Pedra foram entrevistados. Essas foram as favelas situadas dentro desses complexos que mais sofreram com as ações da polícia no mesmo período.

Resultados - Moradores - Ilustração- Renato Cafuzo

Pesquisa com os moradores:

A rotina de violência nos territórios historicamente marginalizados pode ser traduzida em números: 87,9% dos moradores relataram que houve ações policiais nos complexos nos 12 meses anteriores à pesquisa. Durante os tiroteios, 60,4% deles foram impedidos de trabalhar; 42,8% não conseguiram realizar atividades de lazer; 33,3% não puderam receber encomendas; 32,3% deixaram de ir a consultas médicas e 26% foram impedidos de estudar. As ações policiais ainda interromperam o fornecimento de serviços essenciais: faltou energia elétrica em 44,9% das moradias, 32,1% dos moradores sofreram com a interrupção de internet e 17,3%, de água nos 12 meses anteriores à pesquisa.

Os dias de trabalho interrompidos pelas operações policiais geram uma perda milionária para os moradores: R$ 9,4 milhões por ano – ao considerar a renda média de R$ 1.652 mensais e a população maior de 18 anos dos dois complexos, que juntos têm 39.717 moradores. Repor e consertar portas arrombadas, janelas quebradas e outros objetos danificados durante as operações também tem um custo alto para o bolso dos moradores. Os prejuízos são de R$ 4,7 milhões por ano nos dois complexos.

Resultados - Comerciantes - Ilustração- Renato Cafuzo

Pesquisa com os comerciantes e prestadores de serviço:

Salões de beleza, barbearias, bares, lanchonetes e lojas de roupas são frequentes na Vila Cruzeiro e em Mandela de Pedra. A maior parte das atividades comerciais são desempenhadas por dois grupos: “Alimentação e bebidas” e “Beleza e cuidados pessoais”, que representam aproximadamente 70% dos estabelecimentos. A categoria “Alimentação e bebida”, que inclui bares, lanchonetes, mercados, lojas de sorvete, açaí e sacolé/picolé, entre outros – reúne 52,4% de todos os comércios da Vila Cruzeiro e 48% dos estabelecimentos em Mandela de Pedra. Os salões de beleza, barbearias, espaços especializados em unhas, sobrancelhas e outros da categoria “Beleza e cuidados pessoais” aparecem em segundo lugar com 19,3% dos estabelecimentos na Vila Cruzeiro e 18,2% em Mandela de Pedra.

Mas a exposição frequente a tiroteios causados por agentes de segurança provoca grandes perdas aos comerciantes locais. Em um questionário realizado com todos os 303 estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços das duas favelas, foi verificado que o custo para repor e consertar bens danificados durante as operações é de R$ 63 mil por ano. 51,3% dos comerciantes da Vila Cruzeiro e 46,3% de Mandela de Pedra afirmaram que as ações policiais ocasionaram fechamento temporário do estabelecimento alguma vez nos 12 meses anteriores à pesquisa, o que também causa uma perda na renda. O prejuízo total decorrente das operações é de R$ 2,5 milhões por ano, o que representa uma perda de 34,2% do faturamento médio dos empreendedores das áreas estudadas.